domingo, 21 de agosto de 2011

Contando as horas

Conhecer uma pessoa é tarefa das mais difíceis. Digo isso porque li "Só me conhecerão quando eu morrer", de Gustavo Gitti. Desculpem-me se o texto é longo, mas achei fantástico. Serve pra gente aprender a se relacionar melhor. Leiam:

Nós estaremos todos mortos em breve. Lembretes diários assim ajudam a sustentar a perspectiva da morte e direcionar a vida ao essencial. Afinal, não é muito inteligente esperar por um câncer para nos lembrar do que vale a pena. Do mesmo modo que destila a vida, o olho da morte pode melhorar os relacionamentos. Para abri-lo, vamos observar o que acontece em um velório caricato. Todos começam a conversar sobre sua conexão com o falecido. O filho fala do pai para o sócio, que descreve o empresário que só ele via. A namorada surpreende a ex-mulher com histórias que não parecem vir de seu ex-marido. O amigo do judô dá risada com o amigo da dança de salão. A diretora de uma ONG revela como ele a ajudou secretamente por décadas. Só conhecemos uma pessoa quando ela morre. Mas talvez possamos antecipar o processo.

O que vemos quando olhamos para esposas, namorados, amigos, filhas, funcionários? O outro surge 100% como a identidade que foi construída pela relação.Começamos a enxergá-lo de um jeito e, em pouco tempo, não mais desconfiamos de que ele seja muito mais do que nos aparece, de que outros o ativem de outro modo, de que ele encarne diferentes risadas, olhares, gestos. A cegueira se evidencia quando o flagramos em outro mundo, reencontrando um amigo de infância ou palestrando. É como se fosse outra pessoa!

Nunca abraçamos alguém por inteiro - e nem deveríamos tentar. Sua esposa não é sua esposa. Seu namorado nunca foi nem nunca será seu namorado: ele é um homem que está vivendo com você. Conectar-se com essa pessoa livre, não apenas com suas identidades, é o melhor jeito de aprofundar a relação.

Conhecer o outro muitas vezes significa congelar o outro. Se você acha que ela não gosta ou não faria tal coisa, espere pelo próximo namorado... Para realmente conhecer alguém, é preciso desconhecê-lo, relacionar-se com o espaço onde surgem suas faces e histórias. Liberar o outro de quem ele é.

Impedimos as pequenas mortes e renascimentos quando silenciosamente, sem saber, exigimos que o outro encarne de novo e de novo o personagem com o qual estamos acostumados. Desejamos surpresas ao mesmo tempo que as dificultamos. Ao controlar, tentamos garantir que a relação dure, que não sejamos abandonados, que o outro não seja assim tão livre: "Mude, mas somente dentro das mudanças que eu espero".

Podemos deixar os outros morrerem mais antes da última morte. Conhecê-los é alimentar sua imprevisibilidade, descobrir não tanto quem a pessoa foi ou é, mas quem não é, quem pode ser.


Mas o que é que isso tem a ver com o título e com a minha saga musical, né?!

Então... o disco que escolhi é do INXS (que se pronuncia In Excess) banda australiana formada em 1977, por Andrew Farriss, Michael Hutchence, Tim Farriss, Jon Farriss, Garry Gary Beers e Kirk Pengilly. O nome do álbum é Welcome to wherever you are. Dentre as músicas, eu já conhecia "Beautiful girl" e gostei bastante de "Not enough time", da qual transcrevo uma parte aqui.

And I was lost for words
In your arms
Attempting to make sense
Of my aching heart
If I could just be
Everything and everyone to you
This life would just be so easy

Not enough time for all
That I want for you
Not enough time for every kiss
And every touch and all the nights
I wanna be inside you


É sempre muito bom estar perto de quem gostamos, de forma que nosso tempo nunca será suficiente!

Um comentário:

  1. Adorei o texto!
    Eu nunca entendi esse negócio de as pessoas virarem quase santas após morrerem. Parece que só após a morte pode-se fazer homenagem à pessoa ou só se pode lembrar das coisas boas acerca dela.
    Não precisamos esperar pelo sopro da morte pra valorizar a vida e conhecer melhor as pessoas que nos cercam.
    Ando com urgência pela vida ultimamente. Tenho odiado esperar pelas coisas.

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