É
curioso que essas perguntas venham surgindo com maior frequência ao longo dos
três semestres de experiências de estágio. Continuo acreditando que nossa
escolha pelo ensino carrega uma grande responsabilidade sobre o desenvolvimento
do nosso aluno. Por vezes, estive pensando se realmente quero e consigo ser um
exemplo a ser observado, avaliado e seguido.
Quem
são as pessoas que irão conhecer as Ciências por meio do meu trabalho? Como as
Ciências estarão presentes no dia a dia e no futuro dessas pessoas?
Possivelmente, serão crianças, jovens em formação ou jovens e adultos da
educação básica. Eu também poderia (e posso) apresentar os conhecimentos das
Ciências para meus pais, meus avós, para a pessoa que escolhi para viver
comigo, para meus futuros filhos, meus primos, tios, afilhados? Por que não
também para os meus amigos, colegas de trabalho ou até mesmo um estranho?
De
todo modo, não conseguirei ensinar muita “Ciência” para todos esses “alunos”. É
muito mais provável que todos aprendam juntos, eu e eles. Quanto mais eu me
proponho a ensinar, mais eu percebo que sei muito pouco e que é permitido ao
professor não dominar todos os assuntos. Quem é que consegue?
Sendo
assim, qual seria a minha atuação como professora de Ciências?
O
grande desafio a que me proponho todos os dias é despertar nos meus alunos
(incluindo também as pessoas que convivem comigo) o olhar investigativo e
curioso acerca de tudo aquilo que podemos observar (ou não). Segundo o
Professor Nelson Vaz (1997), faz-se necessário não deixar o espanto, diante do
mistério, se perder na rotina e na pressa de nossos dias. “Traga seu próprio espanto”, sugere Vaz e eu acrescento: procure
observar as coisas com respeito. Espantar-se é reconhecer novidades no nosso
entorno e respeitá-las é o mesmo que tratar o observado como possível objeto de
investigação científica.
Nesse
sentido, ser professor de Ciências pode exigir atenção aos detalhes,
sensibilidade e carinho para com seu(s) aprendiz(es) e para com a natureza. Ao
invés de esperarmos obediência de nossos alunos, podemos estabelecer com eles o
cuidado, o diálogo e o debate, tão necessários para as boas teorias e para o
desenvolvimento da Ciência.
Em
tempos cada vez mais individuais e deficientes no estabelecimento de relações
humanas, acredito no potencial do professor de Ciências para a recuperação da
discussão, do diálogo e da parceria nas vivências da sociedade. Nossos
programas curriculares nos permitem uma gama de atividades que valorizam não
somente os conteúdos como também as nossas habilidades, os nossos desafios e a
convivência com aqueles a nossa volta. Este é o projeto que me desafia e que mantém
a minha vontade e admiração pela profissão.
oh gente orgulho cresce cada dia mais
ResponderExcluirSugestão para 'ouvir' (em voz alta!)... é da bedeut 8>
ResponderExcluir"Quando eu lecionava, nunca procurei dizer ao aluno, meramente, 'o que eu sei'. Bem antes, o que ele desconhecia. Por outro lado, esse fato não era o principal, apesar de, por isso mesmo, sentir-me já na obrigação de encontrar algo novo para cada discípulo. Senão, esforçava-me em mostrar-lhe a substância da coisa desde o seu fundamento. Por esse motivo, jamais existiram para mim essas regras rígidas que tão cuidadosamente armam os seus laços em torno do cérebro de quem aprende. Tudo resolvia-se em instruções tão pouco obrigatórias para o aprendiz quanto para o professor. Se o aluno pode agir melhor sem tais instruções, então que passe sem elas. O professor, todavia, deve ter coragem de expor-se ao ridículo. Não deve apresentar-se como o infalível, o que tudo sabe e nunca erra; mas como o incansável, que busca sempre e que, talvez, às vezes encontra. Por que desejar ser semideus? Por que não, melhor, plenamente humano?"
Harmonia, de Arnold Schoenberg