quarta-feira, 4 de agosto de 2010
1 (uma) cabeça de gado
Especialmente hoje, gostaria de contar sobre algo recorrente nas palavras de Marcel Proust, sobre a forma como percebemos as coisas e as pessoas, dependente, em parte, de um ato intelectual.
"Nem mesmo com referência às mais insignificantes coisas da vida somos nós um todo materialmente constituído, idêntico para toda a gente e de que cada qual não tem mais do que tomar conhecimento, como se se tratasse de um livro de contas ou de um testamento; a nossa personalidade social é uma criação do pensamento alheio. Até o ato tão simples a que chamamos 'ver uma pessoa conhecida' é em parte um ato intelectual. Enchemos a aparência física do ser que estamos vendo com todas as noções que temos a seu respeito e, para o aspecto total que dele nos representamos, certamente contribuem essas noções com a maior parte. Acabam elas por arredondar tão perfeitamente as faces, por seguir com tão perfeita aderência as linhas do nariz, vêm de tal modo nuançar a sonoridade da voz, como se esta não fosse mais que um transparente invólucro, que, de cada vez que vemos aquele rosto e ouvimos aquela voz, são essas noções o que olhamos e escutamos."
Partindo desse pensamento, descobri que o meu dedão do pé pode não ser bonito como eu imaginava e que a roupa, a princípio, estranha, da menina no ponto de ônibus não era tão absurda assim. Foi ainda com essa ideia na cabeça que tentei encarar o meu dia, porque quarta-feira é dia de vaca braba outra vez (ver Desabafo a la Macunaíma - Junho). Ela continua brava, até mais talvez. Mas... na boa?! Eu sou mansa. E é isso que importa!
PS: Estou lendo Proust vagarosamente e já entendi que para recuperar minhas páginas vou ter que ler outra coisa ao mesmo tempo, notícias, artigos, crônicas, piadas, revistas, livros... sei lá.
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Hahahah, descupaê, mas eu ri...
ResponderExcluirPerfeito o trecho que você publicou. Senti isso na pele por muito tempo e vou sentir pra sempre, fato. Vez ou outra topamos com mentes, olhos e ouvidos abertos e dispostos a nos (re)conhecer.
Sobre a vaca braba, só o seu "medo" já é uma prova do que você acabou de citar. Talvez ela não seja tanto quanto lhe parece. E talvez você sinta mais o fato não de (você) ser ou não ser, mas de não parecer. E cuidado, você pode acabar se convencendo de que ela tem razão.
E isso não é assunto pra comentário, é pra cafezinho com pão de queijo. Boa noite.
Era pra rir mesmo... sem desculpas...
ResponderExcluirQuanto ao trecho, sofremos com as noções dos outros, mas fazemos igual.
Deixemos a vaca pro cafezinho com pão de queijo.
Beijim
Ah, Pri! Ler Prost e assuntos complementares é sim uma boa aventura! e combina mesmo é com pão de queijo e caldo de cana! rsrsrs... Bjim procê!
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